Dia 25 de julho é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. No Brasil também se comemora o dia de Tereza de Benguela, rainha quilombola que resistiu bravamente à escravidão. Diante da relevância do debate sobre a inclusão social da mulher negra, lembremos também de outra personagem importante, Esperança Garcia, escravizada que se tornou símbolo da resistência e luta pelos direitos dos negros no século XVIII.
Mais que um resgate importante de memória, a data impõe-se como marco no sentido de exaltar a permanente necessidade de reflexão sobre a história de luta das mulheres negras desde o brutal processo de escravidão sofrido na América Latina, fato histórico que ecoa alto até os dias atuais em nossa sociedade, que exclui, oprime e desampara a mulher negra.
O racismo institucional no Brasil é decorrente de uma sociedade segregacionista que relativiza a proteção dos Direitos Humanos de pessoas afrodescendentes e, não à toa, o tema tem sido uma das prioridades da Organização das Nações Unidas (ONU), que dedica uma década à proteção aos povos de ascendência africana perante os pilares reconhecimento, justiça e desenvolvimento. Para as mulheres, o cenário é ainda pior.
As sequelas sociais causadas pelo racismo podem ser claramente notadas nas relações de trabalho, sendo o trabalho doméstico um relevante repositório das mulheres negras no Brasil. O estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em junho de 2020, mostra que o Brasil conta com aproximadamente 6 milhões de trabalhadoras domésticas, que reflete 15% das mulheres com ocupação no país, com índice de 18,6% entre mulheres negras, contra 10% de mulheres brancas.
Ainda, a consultoria realizada pelo “Indique Uma Preta” em parceria com a empresa de pesquisa Box1824, divulgada no fim de 2020, mostra que as mulheres negras têm as piores condições no mercado de trabalho e recebem em média 44% do salário de um homem branco, ou seja, menos da metade. A desigualdade no mercado de trabalho é um dos indicadores que apontam a dura realidade da mulher negra, que representa grande parte do contingente dos 10% mais pobres da população brasileira.
E, segundo dados do IBGE, mesmo considerando o significativo avanço social obtido entre os anos de 2004 e 2014, a população negra ainda representa mais de 75% dessa camada da sociedade, ou seja, evidencia o maior distanciamento das pessoas negras à mobilidade social.
Os dados obtidos na pesquisa acima mencionada mostram também que as mulheres negras possuem menor presença em cargos de liderança e somam menos de 7% das contratações em São Paulo no ano de 2020, sendo que 72% das mulheres negras entrevistadas não foram lideradas por outras mulheres negras nos últimos 5 anos de trabalho.
As práticas de inclusão, tais como as políticas de cotas raciais e as ações privadas que vêm sendo fomentadas por entes privados em pronta resposta aos anseios da sociedade, significam apenas mais um passo da mesma luta travada por Tereza de Benguela, Esperança Garcia e tantas outras mulheres negras ao longo da história moderna. A responsabilidade é de todos nós, pois, esse passo deve ser acompanhado por educação e conscientização, forma de garantir a efetividade da ação.
Não são poucos os exemplos de programas de recrutamento dedicados a mulheres negras em virtude do reconhecimento do devastador prejuízo causado pelo racismo durante séculos e que, lamentavelmente, ainda vivemos resultando no afastamento dessas pessoas aos cargos executivos com poder de decisão. Mas precisamos de mais.
Então, que este Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha seja mais um reforço da importância do trabalho diário de todos nós, no sentido de criar oportunidades e construir pontes sociais efetivamente inclusivas. Que todos tenhamos Terezas e Esperanças em nossas ações.